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Quase dois séculos e meio depois, a escravatura é hoje um acontecimento quase esquecido e ainda bem, para que feridas passadas possam assim ficar definitiva e completamente curadas, aos olhos dos que a praticaram e no pensamento colectivo dos que a sofreram e que foram milhões.
Mas para os recursos da época, a escravatura foi encarada como uma forma eficaz e barata de resolver problemas de falta de mão de obra, nomeadamente nos novos e imensos territórios descobertos no chamado Novo Mundo.
A luta contra a escravatura porém, começou logo após as primeiras descobertas e já em 1435, o Papa Eugénio IV, mandou restituir à liberdade os cativos das Ilhas Canárias. Mas mesmo no seio da própria Igreja, havia diferentes maneiras e formas de tolerar ou não o comércio de escravos.
Várias bulas foram publicadas, concedendo a Portugal o privilégio do comércio de escravos, mas não o de fazer escravos.
Em 1888, o Papa Leão XIII, pedia aos bispos do Brasil para ajudarem e apoiarem o Imperador D. Pedro II e sua filha, na luta que estavam a travar para abolir a escravidão em todo o país.
O comércio de escravos iniciado pelos portugueses na época do renascimento, chegou a ser louvado pela cristandade como um feito de caridade, que chegou a ser celebrado por Miguel Ângelo, na parede principal da Capela Sixtina na cena "resgate dos escravos", onde aparece Portugal (representado figurativamente por um homem forte) a atirar um rosário e a puxar, atrás dele, a África e a Ásia, (representados por dois homens de tez escura) atribuindo assim um valor inestimável às conquistas portuguesas e ás suas "conversões" ao cristianismo das almas impuras destas paragens.
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Só em 1869, se conseguiu concretizar a abolição prática e completa da escravatura no Império Português, embora ela tenha sido abolida em 1761, pelo Primeiro Ministro do Rei D. José I, Marquês de Pombal.
Muita injustiça e desumanidade foi praticada ao longo de vários séculos, mas a verdade é que foi também Portugal o pioneiro da abolição da escravatura, em 1761. No entanto, considerando os vastos territórios que nessa altura possuía um pouco por toda a África, América do Sul e Oceania, os chamados negreiros (mercadores de escravos) continuaram a transportar africanos para as Américas, apesar da lei em vigor.
Nas longas e tormentosas viagens através do atlântico, onde os escravos eram amontoados em cima uns dos outros, as leis pouco ou nenhum efeito tinham e os lucros conseguidos, compensavam largamente os riscos que tinham de correr.
Nas longas e tormentosas viagens através do atlântico, onde os escravos eram amontoados em cima uns dos outros, as leis pouco ou nenhum efeito tinham e os lucros conseguidos, compensavam largamente os riscos que tinham de correr.
Original do Diário Oficial de 14 de maio de 1888, com a lei 3353, abolindo a escravidão no Brasil. |
No Brasil, como parte integrante de Portugal, a abolição também ocorreu em 1761, mas na prática, devido aos imensos interesses em jogo, só aconteceu, de facto, com a publicação da Lei Áurea, em Maio de 1888.
Na França, após a Revolução Francesa, foi abolida a escravidão em 1794, mas o Imperador Napoleão restabeleceu-a novamente em 1802. A abolição definitiva, só aconteceu 46 anos depois, em 1848.
Abolição da escravatura. Quadro de Fraçois-Auguste Biard (1798-1882) |
No Chile, aconteceu em 1823 em consequência da publicação de Lei da Liberdade de Ventre, que dizia que filho de escravo, nascido no Chile, seria livre e, também, como "pagamento" pela grande ajuda dada pelos batalhões de escravos negros que combateram ao lado do exército libertador. O Chile, foi assim, um dos primeiros países a conceder a liberdade aos escravos.
A escravatura praticada pela Grã-Bretanha, foi de longe a mais grave e dela terá vindo muita da fama que alastrou injustamente para outros países. Também aqui, por interesses diversos que se dividiam a abolição só foi declarada em Agosto de 1834 em todas as colónias britânicas, tendo no entanto havido um período de transição de quatro anos, em que os escravos continuavam ligados ao seu amo, mas em troca de um soldo.
Nos Estados Unidos, aconteceu em 1863. A posse de escravos, foi permitida até a Guerra da Secessão, particularmente nos Estados do Sul. Todos os Estados a norte de Maryland, aboliram a escravidão até 1830, progressivamente mas em diferentes momentos. Os sulistas, tinham uma visão menos humanista e mais prática dos benefícios da mão de obra barata e dos trabalhos caseiros, até, que eram executados por servos que já nasciam destinados a essas condição e assim eram vistos e considerados pelos seus senhores.
Abraham Lincoln |
A história do abolicionismo nos Estados Unidos, foi dura e muito difícil de resolver, apesar dos enormes apoios que vinham do norte e das muitas organizações cívicas e homens e mulheres que achavam a escravidão uma vergonha para o próprio país.
Muitos abolicionistas, tiveram um papel activo no Underground railroad que visava ajudar os escravos fugitivos, apesar das grandes penas que isso podia acarretar, segundo a lei federal que entrou em vigor em 1850.
Finalmente, mediante a Lei de Emancipação, promulgada pelo Presidente Abraham Lincoln, na qual foi declarada a liberdade de todos os escravos, os abolicionistas americanos obtiveram a libertação dos escravos nos estados onde ela ainda existia.
A liberdade tinha chegado, mas haveria ainda um longo caminho a percorrer.
Na Cronologia da Abolição da Escravatura, poderá saber mais pormenores.
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